Hellfest 2019
23/06/2019 - Val de Moine - Clisson, França
Nossa relação com o Hellfest é tão próxima que mais se tornou uma viagem de férias. Daquelas que se faz um planejamento anual, hospedagem habitual, restaurantes e padarias favoritas e até mesmo boa relação com o Staff de imprensa, que sempre nos recebe de braços abertos. Afinal de contas, são nove anos e dez edições desde que pisamos lá por primeira vez. Dá até para fazer aquela piada sem graça "quando cheguei aqui só tinha mato" e foi mais ou menos assim, lembrando que em 2010, aonde hoje é o festival era o terreno de para acampar e o festival, era literalmente do outro lado da rua e num espaço aonde hoje praticamente abriga aos trabalhadores, ônibus de bandas, equipamentos e sistema de transporte local. O festival cresceu tanto que rola até um papo de que o Hellfest é o responsável por levar a internet de fibra ótica na região. Lembro muito bem da dificuldade de utilizar o Wi-Fi na limitada sala de imprensa e que nos dias atuais até vídeos ao vivo são transmitimos sem nenhum tipo de problema.
Junto a todo esse crescimento, vem um grande público e tivemos a sensação de "too much", o que nos faz imaginar uma ampliação do espaço. O que o Hellfest definitivamente não tem é limites quando se trata da criatividade. Esse ano, nova infraestrutura na praça de alimentação com melhores espaços para uma refeição (ou lanche) cômoda e uma decoração toda especial, com direito a uma refrescante fonte de água decorada com uma guitarra ao centro. Também um enorme relógio, ao melhor estilo Mad Max ao centro do evento, um "monumento" tão marcante quanto a tradicional árvore ou o braço e a mão com o símbolo Heavy Metal ou o grande crânio inflável da entrada da área VIP e a estátua do Lemmy próximo ao Warzone. Se temos um ponto negativo para esta edição foi a redução do espaço destinado ao merchandising oficial das bandas. Tão pequeno que não havia disponibilidade para todas e que aliás tinham que estar revezando espaço e / ou expondo poucas opções.
Outra novidade esse ano foi a adição de um quarto dia por causa do Knotfest, o festival itinerante da banda Slipknot que passou por primeira vez na França. Muitos apostaram que o Hellfest ampliaria sua jornada para o futuro mas já temos confirmadas as três datas para 2020 e com isso as especulações caíram por terra à menos que um novo festival de mesmo formado do Knot una força com o Hellfest.
Knotfest Meets Hellfest A fusão
Então, aquele descanso pré-festival, tarde de compras no Extreme Market na véspera e algo mais acabou indo por água abaixo. Já chegamos entrando em filas para credenciar, dispensar bagagem e mãos à obra. Portas abertas às 16:00 e apenas trinta minutos depois o Sick Of It All já entrava em cena abrindo de maneira oficial o Knotfest. Como muitos sabem, há dois meses estivemos com a banda em Barcelona e de lá pra cá pouca coisa mudou no setlist clássico dos nova-iorquinos. "Take The Night Off", "Injustice System", "My Life" e finalizando com o tradicional wall of death e "Scratch The Surface" e "Step Down". Na sequência matamos um pouco de tempo com Amaranthe, tempo essencial para recuperar o fôlego à tempo de rever o Ministry que, apresentou um setlist muito mais completo do que sua visita anterior há dois anos. Completo no sentido de incluir os clássicos acima de tudo. "Thieves", "N.W.O.", "Stigmata" e "Jesus Built My Hotrod" em sequência, alucinante.
O interessante do Knotfest é que não se perde show por causa de coincidências nos horários, por contar apenas com os dois palcos principais do festival, quando o show do palco 1 acaba, começa-se o show no palco 2. E assim nesse ritmo frenético o Ministry se despediu e o Behemoth literalmente incendiou o palco dois. Daí surgiu o primeiro grande desafio para os fotógrafos. Palco alto, chamas na frente do mesmo e a banda recuada, se você (leitor) ver alguma foto da banda aí, pode acreditar em milagre. Outros que também marcaram boa presença foram o Papa Roach, Powerwolf, Amon Amarth e Rob Zombie que trouxe consigo toda psicodelia electrônica underground dos anos 90 e um punhado de variados covers como "Helter Skelter" dos Beatles, Blitzkrieg Bop dos Ramones e é claro que de sua antiga banda White Zombie, Thunder Kiss '65 e "More Human Than Human". De sua carreira solo "Superbeast", "Meet The Creeper" e "House of 1000 Corpses" foram as mais destacadas.
Ponto alto da noite e responsável por uma horda de mascarados presente no festival estava o Slipknot. O setlist foi um verdadeiro repasso na carreira para deleite dos já mencionados fãs. "People = Shit", "Before I Forget", "Duality" entre as mais clássicas, "The Devil and I" e "Vermilion" entre as mais melódicas e "All Out Life" junto a "Unsainted" representando a atualidade da banda. Finalizando a noite tivemos Sabaton que deveriam ter dado o boa noite definitivo para o publico do Hellfest no fim de semana mas o primeiro dia oficial de Hellfest nos reservava uma surpresa das grandes.
Hellfest - Dia 1 Ainda estávamos na mesa do café da manhã e não se falava em outra coisa. Em nota oficial o Hellfest anunciava o cancelamento do show do Manowar com a banda presente no local. Lembrando que no ano passado, antes do último show daquela edição, um vídeo foi apresentado para anunciar as atrações principais para 2019 e Manowar foi uma delas. Dentro das informações vazadas estava a alegação de que a banda queria fazer a passagem de som e (possivelmente) tocar a um volume que excedia o permitido pelas leis francesas e que além de proibido consequentemente embolaria com o som de outras apresentações que acontecem de maneira simultânea, o que para o evento seria um caos. A banda alegou quebra de contrato e pelo visto quer cobrar uma indenização. Advogados em ação. O Sabaton foi imediatamente escalado para ser o substituto e foi. O que não contávamos é que o vocalista apenas figurou como animador de festa já que por conta da apresentação no dia anterior, o cidadão não tinha voz deixando o baixista e guitarrista como vocalistas improvisados. Quando algo da errado, é pra valer.
Nós, que não temos nada a ver com isso e que muito menos assistiríamos ao show da mencionada banda (sinto muito pelos fãs da mesma), arrumamos equipamento e fomos diretamente ao Warzone para o show do The Rumjacks, banda australiana que faz um perfil muito parecido ao Dropkick Murphys e que o público europeu é verdadeiramente apaixonado pelo estilo. Tanto é que foi um dos maiores e mais memoráveis momentos do palco Warzone desta edição. Tocar no horário de 12:15 do primeiro dia de festival é considerado uma missão difícil mas assim como o Vitamin X há alguns anos, os australianos deram a volta por cima, fizeram uma apresentação que superou todas as expectativas e o público não arredou pé até que a banda tocasse um bis. Estava aberto e de maneira oficial o Hellfest 2019.
O palco Altar nunca foi de nossos favoritos mas passamos por ali com mais frequência do que o esperado. Nossa primeira visita foi para assistir Cult Leader, considerada por aí uma banda de Hardcore mas sinceramente classificaria no mínimo como um crust moderno, pesado mas não tão sujo e fazendo um perfil muito parecido com Nails. Apresentação brutal do quarteto de Salt Lake City. De volta ao Warzone para conferir o The Dwarves que, mais uma vez contou com a presença de Nick Oliveri nas quatro cordas, o que sempre dá um toque à mais em qualquer apresentação. Mais adiante e no mesmo palco foi a vez dos suecos do No Fun At All que entre boas musicas de seu último disco Grit como "Spirit" e clássicos como "Master Celebrator" e "Beat 'em Down" fez um bom show. Como nossas visitas ao palco Altar estavam em alta, retornamos ao mesmo para conferir o Power Trip e mais uma de suas matadoras apresentações. Para dar aquele respiro e o tom de festa no Warzone, o quarteto apadrinhado pelo Rancid, o The Interrupters que fez um bonito show como já era esperado. Musicas como "By My Side", "A Friend Like Me" e "She Got Arrested" foram apenas algumas das mais celebradas. O momento alto da apresentação foi quando cadeirantes participaram do crowd surfing (atravessar o público por cima das cabeças alheias), algo que já havíamos visto antes mas que sempre impressiona. Tanto que a vocalista Aimee, que havia descido do palco para cantar junto ao público mas já havia retornado ao mesmo, fez questão de descer novamente e cantar boa parte da música junto ao deficiente. Outro discurso que chama atenção quando se trata de bandas americanas é: "Felizes por sermos bem recebidos num festival de Metal, etc, etc". Americanos ficam abismados com a mistura de estilos e a falta de conflitos entre o público, em pleno século vinte e um é algo que nos espanta em saber que algum problema desta natureza ainda acontece por aí.
Como o dia era de participação especial no baixo, saltou à vista logo na entrada do Me First and The Gimme Gimmes a presença de CJ Ramone ocupando o lugar de que por vezes é de Jay Bentley ou Fat Mike na super banda de covers. Em nossa primeira visita ao palco Valley, tivemos por diante o rock do Graveyard antes de ir ao palco principal junto ao Dropkick Murphys que há muito, deixou de tocar em palcos menores neste tipo de eventos. Heróis em Boston e idolatrados por muitos, a numerosa banda fez um show completo deixando o público em êxtase desde o princípio com "The Boys Are Back" e "Going Out In Style". Também tivemos "You'll Never Walk Alone" cover de Rodgers & Hammerstein e mundialmente conhecida por ser cantada pela torcida do Liverpool e que deu um brilho especial na apresentação antes de fecharem com "The State of Massachusetts" e "I'm Shipping Up to Boston".
Em reta final do primeiro dia e ficamos numa sinuca de bico sem precedentes, era o Possessed destruindo e apresentando seu bom novo disco de um lado, Milo liderando o Descendents que não tocavam na França há vinte e dois anos de outro. No altar Tom Gabriel Ficher tocando Hellhammer sob o nome de Triumph of Death e na sequência o Carcass dividia horário com Fu Manchu. Foi pincelada pra todos os lados antes de tomarmos o caminho de casa. Segundo dia de evento, primeiro de Hellfest e o nível de "stamina" do já no vermelho.
Hellfest - Dia 2
Apesar de boas ofertas desde as primeiras horas do dia, se quiséssemos chegar em boas condições no final do mesmo e ter um fôlego extra na reta final de domingo, quarto e ultima jornada de evento, tínhamos que fazer um pit stop ou iniciar o dia mais tarde e foi exatamente o que aconteceu. Não fiquem aborrecidos por termos aberto mão de Skindred, Whitchapel, Fever 333 e até mesmo Deadland Ritual, banda com músicos de renome como Matt Sorum na bateria e Geezer Butler no baixo.
Nossa primeira parada foi para nossa única visita do dia ao palco Warzone e conferir o psychobilly alemão do Mad Sin e o vocalista Koefte Deville com muitos quilos à mais. Aquele gordinho topetudo das fotos promocionais parece até outra pessoa. Foi festa garantida em cima do palco e abaixo do mesmo. Por falar em festa, no palco principal Jesse Hughes liderava a mesma com o Eagles of Death Metal e hits como "I Only Want You", "Anything 'Cept the Truth", "Heart On" e "Cherry Cola".
Hora de cobrir um pouco de historia do rock, hora de cobrir Whitesnake com seu Hard Rock, pitadas de Blues e até as famosas baladas. Sim, tivemos "Love Aint No Stranger" e "Is This Love". Mais adiante foi a vez de Def Leppard com sua formação (praticamente) original, considerando que poucas mudanças ocorreram desde 1977. Em 42 anos de estrada colecionaram hits como "Pour Some Sugar on Me", "Animal" e "Hysteria" e uma legião de fãs de todas as idades que prestigiaram o set da banda, alguns com lagrimas nos olhos.
Iniciamos o paragrafo anterior falando em cobrir a historia do Rock, que não seria a mesma sem a presença de ZZ Top. A imagem de fundo no palco diz tudo, quinquagésimo aniversário da banda, isso mesmo 50 anos e uma vasta discografia, rock and roll made in Texas, "Gimme All Your Lovin", "Legs" ou mesmo "I Gotta Get Paid" chamam atenção pela tranquilidade de que são tocadas pela dupla de barbudos.
Nossa jornada de clássicos não poderia chegar ao fim sem o grande nome do dia e do evento, o Kiss. Responsável pelo grande numero de publico do dia, com fãs que vão de crianças ao tiozão de cabelos brancos, com um palco especialmente montado para eles, fogos de artificio, chamas, raios lasers numa decoração única para combinar com suas roupas, ou fantasias, fiquem à vontade. A grande verdade é que mesmo para os que não são fãs do Kiss, é uma honra poder presenciar o show da banda. Uma verdadeira volta no tempo e que muitos acabam por descobrir que alguns hits fazem parte da historia pessoal de cada um. Seja numa festa de escola, ou mesmo naquela estação de radio popular dos anos 80, lá estavam eles com suas caras pintadas, principalmente Gene Simmons e Paul Stanley, únicos membros originais da banda e pilares da mesma, verdadeiros showman. Saindo das enormes caixas de som estavam os acordes de "Detroit Rock City", responsável por abrir o set, "Psycho Circus" e "I Love It Loud", e no mínimo podemos considerar fantástico. Simmons com sua enorme língua é um show à parte. Outro ponto alto da noite foi "Love Gun" e "I Was Made for Lovin' You" com Paul Stanley tocando e cantando numa pequena plataforma montada no meio do publico. Para chegar ali o frontman em questão atravessou um bom caminho numa tirolesa com guitarra em punho e sem nenhum equipamento de proteção, tão somente seu muque. O coroa não só cuida de seus cabelos e demonstrou ali que seu fisico vai bem, obrigado. Encerraram a noite com "Crazy Crazy Nights" e "Rock and Roll All Nite" como não poderia ser diferente ou menos esperado. Também queríamos passar a noite no roquenrol mas o desgaste estava trash e por falar nisso, no dia seguinte era dia de Thrash e fomos descansar. Antes, ainda deu tempo de fofocar um pouco o show do The Sisters of Mercy.
Hellfest - Dia 3
Como havíamos dito na ultima linha acima, dia de Thrash e nada melhor do que tomar café da manhã ao som de Municipal Waste. Pelo menos garantimos o nosso já que Tony Foresta (vocal) confessou que nem havia tido tempo de fazer o mesmo e mais, confessou que ainda estava bêbado da noite anterior e de que era a primeira vez na vida que literalmente saia da cama direto para o palco. Tudo bem que 12:15 nem é tão cedo assim mas considerando a vida na estrada e num fim de semana de festival, pode ser considerado até de madrugada. Para aumentar a lenda da banda, das seis musicas que tocaram, quatro foram do disco The Art of Partying e ainda finalizaram com "Born to Party"... e a festa continua em algum lugar do planeta.
Num ping-pong de palcos principais e sem grandes correrias vimos apresentações do Tesla, Blackberry Smoke e Death Angel que voltou com força total e recuperou um nostálgico publico. Quem parece mesmo que foi promovido é o Clutch. Após varias passagens pelo festival, sempre lotando o palco Valley, chegou a hora de pisar no palco principal do evento. Mesmo assim a banda carrega suas características de ambiente reduzido, exatamente como faz o Descendents, adiantando a posição da bateria e compactando os amplificadores para que o som saia à medida. Aquelas Gibson, aquele Rickenbacker, aquele "blues acelerado" combinado com o fundo de palco e "Ghoul Wrangler", "H.B Is in Control" e "Vision Quest" foram fantásticas.
Perseverança, podemos definir assim o nome que o Testament tem no mundo do metal nos dias atuais. Todas as bandas tiveram aqueles altos e baixos após o grande boom dos anos oitenta e para os mesmos, a década seguinte foi confusa, assim como foi para Kreator e muitas outras sem contarmos com as que não resistiram e tiveram que acabar ou dar um tempo. Chuck Billy (aniversariante do dia) e sua trupe firmaram pé e de 2008 em diante lançaram uma obra maestra atrás de outra. E justamente "Brotherhood of the Snake" que dá titulo a seu último disco e "The Pale King" do mesmo que abriram o set. Dentro das clássicas tivemos "The New Order", "Into The Pit" e "Disciples of the Watch".
Dando uma quebrada na galera de Bay Area, o Stone Temple Pilots visitou o Hellfest por primeira vez. Tudo bem que a banda possui uma historia e de que não tem culpa de que Scott Weiland ter morrido, lembrando que o mesmo já havia sido desligado da banda e até mesmo substituído por Chester Bennington antes deste se suicidar. Tudo muito mórbido até que anunciaram Jeff Gutt como vocalista. Até aí podemos soltar aquela frase: "Vida que segue". O que acreditamos ser um exagero é a banda exigir um contrato de exclusividade com fotógrafos após uma minuciosa seleção dos mesmos. Talvez eles ainda não tenham entendido que estão em processo de recuperação e não no auge de suas carreiras. Quem nada tem a ver com isso é Gutt que faz bem o papel de Weiland, uma poderosa e saudável voz. O único desconforto para os fãs mais antigos é o fato do jovem imitar os gestos de Scott. Acreditamos que o mais legal é que um novo vocalista traga uma nova forma de interpretar as canções. Por falar nas mesmas, estavam todas lá. "Wicked Garden", "Vasoline", "Big Bang Baby", "Crackerman", "Sex Type Thing" e "Plush".
Na sequencia tivemos Scott Ian, Joey Belladona, Charlie Benant, Frank Bello e Jonathan Donais tocando umas musicas chamadas "Caught in a Mosh", "I am the Law", "Antisocial" que na verdade é um cover do Trust (grupo histórico francês) e "Indians". Sim, estamos falando do Anthrax, de um show com letras maiúsculas e com um publico entregue. A grande duvida da tarde era se ficaríamos no Lynyrd Skynyrd ou arriscar ver o Philip Anselmo & The Illegals. Considerávamos arriscado por perder a historia do Skynyrd para dar uma nova oportunidade ao eterno vocalista do Pantera que, considerando suas visitas anteriores, não nos tinha brindado nada memorável. Tivemos a sensação de entrar num cassino, apostar tudo e ganhar. Anselmo entrou em cena sóbrio, fisicamente em forma como muitos já pudemos ver através da internet e anunciou que naquela tarde tudo seria diferente, e foi. Num set de dez musicas, apenas as três primeiras não foram do Pantera. "The Better", "Little Fucking Heroes" e "Choosing Mental Illness", daí por diante, nosso personagem em questão e uma das maiores figuras que o mundo da musica extrema já teve a oportunidade de conhecer, brindou o publico com "Mouth For War" e o publico se descontrolou, ficou insano, gritou, berrou, chorou achando que só esse tema já teria ganho o jogo. Mal sabíamos o que estava por vir. "Becoming", "Fucking Hostile", "I'm Broken", "Hellbound", "Yesterday Dont Mean Shit" e "Walk". Quem ali esteve, naquele pequeno palco chamado Valley, presenciou uma nova historia dentro do Hellfest.
Quem também deu o ar de sua graça foi o Lamb Of God e mais adiantes o Slash em carreira solo tendo o Myles Kennedy no vocal. O guitarrista em questão já foi mais badalado quando então existia uma ausência do Guns N Roses, atualmente e justamente porque as canções de sua antiga (e atual) banda não militam tanto em seu setlist, o alvoroço em torno do mesmo baixou mas ninguém o informou. Assim como o STP, Slash fez uma seleta lista de fotógrafos. Para os fãs do GNR apenas um aperitivo com "Nigthtrain".
Quando as luzes do palco se apagam e aparece o nome Slayer, no fundo acaba dando uma sensação de que tudo o que aconteceu durante o dia não passou de um warm up ou mesmo de que todas foram bandas de abertura. Potenciando essa sensação vem a certeza de quem vos escreve não verá mais a banda tocando ao vivo por muito tempo ou mesmo para sempre, já que sabemos que a mesma anunciou aposentadoria após a atual turnê. Foi um show bem parecido ao que cobrimos no passado mês de Novembro, incluindo as bandas de "abertura" daquela ocasião. Parecido sim porém, menos completo tanto em setlist quanto nas decorações de palco. Mesmo assim, se tratando de um festival e, como foi anunciado antes, a ultima participação do Slayer no Hellfest. Foram sete participações em quatorze edições e poderiam ser 14/14 que mesmo assim o publico compareceria. A introdução de "Desilusions of Savior" seguida de "Repentless" e surpreendendo com "Evil Has No Boundaries" de Show No Mercy antes de largar o aço com "World Painted Blood" e "Postmortem" de Reign in Blood. Eram pauladas das antigas e das novas, publico atônito, alegria, braços ao alto, chamas aqui e ali e canhões que cuspiam bolas de fogo ao ritmo da bateria atualmente ocupada por Bostaph. "War Ensemble" é e sempre será um ponto alto nas apresentações da banda. Em reta final e a caixa de clássicos funcionava a todo vapor, "Hell Awaits", "South of Heaven", "Raining Blood" e "Black Magic" chegaram em sequencia antes do grand finale com "Angel of Death", eterna homenagem a Hanneman. Fim de apresentação e Tom Araya até ensaiou algumas palavras ao publico fiel, mas a tradicional queima de fogos cortou o clima de despedidas, que talvez tenha sido bom para o mesmo já que estava visivelmente emocionado, voz embargada e lagrimas nos olhos.
O festival se despediu para valer com o Tool. A banda passa praticamente por todos os festivais de verão deste ano como o grande apelo. Lamentamos aos fãs mas não tivemos condições de ficar para a apresentação. Primeiro porque somente fotógrafos de veículos franceses foram selecionados para cobrir, segundo que ao final do show do Slayer mal conseguíamos nos aproximar do palco aonde a banda estava se apresentando e terceiro e mais importante, tínhamos apenas um par de horas para arrumar as malas e rumar até ao aeroporto.
Coisas boas aconteceram por lá e outras nem tanto. A exemplo do Primavera Sound que parece ir "morrendo pelo sucesso" o Hellfest precisa abrir os olhos para não chegar a tal ponto. Vimos uma área de imprensa, que na verdade é misturada ao VIP, abarrotada. A tal ponto de que era mais fácil comprar bebidas ou mesmo ir ao banheiro no recinto com outras sessenta mil pessoas do dentro do nosso espaço reservado. A locomoção de palco a palco também foi mais lenta pelo mesmo motivo, entre outras coisas mencionadas durante o texto. Pontos positivos e talvez os mais importantes: A não briga, o não conflito durante todo o fim de semana e com tanta gente. A alegria, o sorriso, as brincadeiras saudáveis, as fantasias engraçadas de quem busca diversão acima de tudo. Também, uma grande quantidade de crianças e adolescentes que nasceram ou estão crescendo junto ao festival. O Hellfest não só mudou radicalmente a economia ou a mentalidade local mas também levou o mundo para uma cidadezinha (até então) pacata e com 5 mil habitantes, pessoas de todos os lados e de todas as raças unidas a um único objetivo, curtir o bom e velho Rock and Roll e suas inúmeras vertentes.
Que venha 2020 e a décima quinta edição do Hellfest. A pergunta que fica é simples: O que será que nos preparam?
Enviado por Ana Paula Soares & Mauricio Melo
Confira fotos desse show, por SnapLiveShots: